Sobre o covid e a escolha
Sobre o covid e sobre a escolha
Nessa experiência que estamos passando penso que estamos em dias de luta. A luta silenciosa de algo invisível. Esse fato nos mostra a verdade que, no dia a dia negamos: nós não temos controle de nada. A gente vive na ilusão de que tudo é estável e permanente e esquece que a vida é, na verdade movimento. Viver é muito perigoso, dizia Guimarães Rosa. Se nós pensarmos em querer a manutenção do estável vamos sofrer. A vida é um caminho, uma travessia, onde nós temos que construir a cada curva a nossa paisagem. Será que não podemos plantar diferentes árvores e flores?! Parece até loucura essa necessidade de ser tudo o mesmo quando olhamos por esse prisma. A mudança pode ter uma visão de construtividade contínua, de projetos e novas escolhas. Aí que chegamos no ponto da dificuldade: escolher. Por que é tão difícil escolher? Na verdade nossa dificuldade reside na perda. Toda escolha implica necessariamente em renúncia. Iremos perder o que não foi escolhido. Teremos que suportar o " e se tivesse feito, ido, optado..." Sempre ao escolher uma possibilidade, nós abrimos mão das outras. Queremos a certeza da escolha, a certeza do caminho. Certeza não teremos. Escolher é fazer uma aposta, é trazer paixão para um caminho. E o que seria a paixão? Seria algo que me movimenta internamente, me traz esperança e cria em mim a convicção de valer a pena tentar. Vale a pena apostar nisso pois desejo muito ver onde esse caminho me levará. Desejo viver essa caminhada e dar o meu melhor para que ela floresça. Para conseguirmos entender o nosso querer e a paixão que surge a partir dele precisamos passar pelo processo de entrar dentro de nós mesmos.
Voltando a situação que estamos passando: não seria esse um bom momento para esse mergulho em nós mesmos?! Um momento de repensar, de lidar com questões internas, abandonar algumas coisas velhas que carregamos e que não fazem mais sentido. Quando conseguimos escutar o oráculo de Delfos dizer: "conhece-te a ti mesmo" ; começamos a enxergar nossas paixões escondidas.
O caminho é esse: as vezes plano, ora com subidas fortes, ora com momentos de leves descidas. O importante dessa viagem em nós mesmos é saber que construir a nossa felicidade é uma responsabilidade exclusivamente nossa e ela passa inteiramente pelo processo de escolha. Quanto mais eu me entender, mais próximo estou de achar minhas paixões e de construir um futuro de forma a entender o que me move.
Enquanto eu não tiver esse conhecimento interno, minha escolha será baseada na imposição do permanecer. Essa imposição que é sinônimo do medo. Quando não sabemos de nossas paixões, nossas escolhas são baseadas no medo de perder, medo de mudar, medo de não dar conta e tantos outros medos.
Essa pode ser a nossa grande mudança e nossa grande vitória diante de toda essa experiência de reclusão: conhecimento interno e possibilidade de vivenciar a vida em sua magnitude.