Sobre a solidão e sentir-se só

20/11/2020

Sobre a solidão e o sentir-se só

Quando se fala da palavra solidão muitas vezes vem à mente o conceito de abandono , tristeza e exclusão. Associamos a solidão e estar só, um aspecto negativo de falta, como se fosse uma falta de amor.

Assim, muitas pessoas se colocam paralisadas no medo de estar só e de serem julgadas por isso que se submetem a qualquer coisa para ter alguém presente em suas vidas. Se colocam de forma passiva diante de suas relações, esperando que o outro assuma esse papel de preencher um sentimento de vazio. Acabam por muitas vezes se frustrando ou embarcando em relações falidas por acharem que não tem outra possibilidade.

É como se precisassem desse outro para dar-lhes um lugar, uma função: um lugar desagradável significa que existe um lugar, mesmo que negativo.

Dessa forma a pessoa pode manter por muito tempo relações afetivas tóxicas, relações de abuso, de exploração, com a falsa ideia de que precisa delas. Não precisa.

A pessoa deposita na mão do outro a construção da sua felicidade. E como isso é impossível (só cabe a ela descobrir suas paixões e construir seus caminhos) ela sempre estará na espera, em falta. Na espera do desejo do outro coincidir com o dela, à espera da companhia; à espera da disponibilidade. Essa falta gera outras questões: sentimento de não ter sentido na vida, carência, ansiedade, tristeza e isolamento. É como se nunca fosse ter fim esse sentimento de incompletude, de impossibilidade de ser feliz e de ser amado.

O que ela escolhe é negar sua vida interior. Seu vazio que ecoa buscando uma função. A genuína felicidade só pode ser construída a partir desse vazio. Esse vazio é o movimento interno que gera a necessidade da construção do sentido da vida. Diante desse mundo interior ela pensa como se não houvesse uma forma de lidar com suas próprias questões que não fosse silenciando elas e dando essa voz interior para que o outro fale. Como a bruxa que pega a voz da pequena sereia e tira dela a possibilidade de se expressar.

É sabido pela história que somos seres sociais, vários estudos antropológicos mostram o ser humano vivendo em comunidade. Gostamos de compartilhar afetos, compartilhar ensinamentos, histórias, estar com outras pessoas.

Essa é a chave da questão:

Compartilhar é oferecer algo, é sair da postura passiva de receber e também oferecer. É a equivalência da importância da troca nas relações. Todos tem o seu valor.

Nietzsche acredita que a mais profunda solidão é o meio para o mais profundo aprendizado. Segundo ele o espírito livre é a solidão, pois aprendeu a lidar com a sua companhia ao invés de ter medo.

Mas como então lidar melhor com a solidão?

Platão fala sobre o conceito do divino ócio : Seria um momento do dia onde se deve parar e observar esse mundo interno. Seria o processo de alimentar a alma, de refletir sobre as ações do dia, quais coisas foram realizadas de acordo com seus valores existenciais, quais não foram, o que mudar.

Essa seria uma forma de abrir esse mundo interno e entender seu movimento, deixando assim de ter medo dele e entrando na relação de paz com ele.

A genuína felicidade só pode ser construída a partir de um vazio. É o movimento do caos que gera a criação.