Sobre a culpa
Sobre a culpa
O sentimento de culpa vem de processos internos que nos trazem adoecimento. Partem do lugar de sentir-se inadequado e uma cobrança enorme para haver uma punição dessa suposta inadequação. A culpa nos fala do nosso desejo de perfeição e da nossa intolerância com nossas falhas.
É como se fosse uma forma de uma justiça interna de punição de tudo que é considerado inadequado. Um repreender e castigar. Isso gera um sentimento de não merecimento, como se a pessoa não merecesse o que tem de bom e não pudesse desfrutar da vida. Aí surgem respostas emocionais que concordam com essa culpa, trazendo sentimentos de ansiedade, depressão e pânico. A pessoa fica remoendo a memória que incomoda e muitas vezes seu pensamento fica preso somente naquele fato, criando uma visão irreal da questão e colocando ela em uma dimensão muito maior do que realmente é.
A culpa além de não resolver a questão, nos leva a um estado de martírio. E enquanto estamos presos em um quadro de ansiedade onde o pensamento repete e repete a mesma coisa, o sofrimento que advém disso funciona como punição, como se fosse uma espera angustiante por algo que tiraria o direito de viver ou de ser feliz como forma de pagar pelo que é considerado errado.
O primeiro passo para sair da culpa é aceitar a vida com todas as implicações que ela traz. Aceitar que humanidade significa aprendizado e vivência de experiências e muitas delas serão erros.
Diante do erro podemos assumir uma postura diferente. Ao invés de punição, podemos procurar pelo "fio de Ariadne". Conta a mitologia que Teseu iria entrar no labirinto para enfrentar o Minotauro. Teria o desafio de vencer o Minotauro e de achar o caminho de volta do labirinto. Ariadne se apaixona por ele e lhe entrega um fio para conduzi-lo de volta.
Se ao invés da punição, conseguirmos seguir o fio de Ariadne dentro do próprio labirinto interno, podemos refletir sobre a causa do sentimento de culpa, entender nossa trama interna e chegar a outra possibilidade de resolução construtiva.
O processo de conhecimento interno é sem dúvida um ato de coragem. É ingressar nessa vivência de estar em um labirinto, trazendo a tona os pontos fortes e fracos. É a coragem de assumir a vulnerabilidade de frente e tratar ela como aliada no auto conhecimento e na possibilidade de ser diferente. O fio de Ariadne fala da necessidade de conduzir uma reflexão, de enfrentar o ruim dentro de nós e de guia-lo de uma forma transformadora, como um aliado para o caminho da força interna.
Quando esse processo acontece, chega o sentimento de que somos merecedores da vida sim, com todos os defeitos que temos. Podemos seguir um caminho de melhora e de desenvolvimento emocional, criando nossa história com como uma peça de uma tecelã, através do fio condutor da consciência!