Exigências internas: “Síndrome do por fazer”

21/06/2020

Com a quarentena, trabalho em home office e aulas on-line, começamos a perceber algumas questões emocionais vinculadas a limite e a produtividade.

Tenho recebido algumas demandas relacionadas a sentimento de frustração e incompetência de vários pacientes. O interessante é que nessas demandas, as pessoas se queixam de uma angústia ao pararem o trabalho ou estudo, mesmo que depois de um tempo que exceda o horário que era considerado habitual.

Então não conseguem lidar com o "por fazer" para o dia seguinte e excedem os limites físicos e mentais para entregar coisas que se estivessem em seu ritmo normal, teriam uma pausa. No dia seguinte criam mais demandas porém estão exaustos mentalmente.

Existem alguns aspectos nesse cenário que precisamos pontuar.

Primeiramente falamos de uma necessidade de aprovação. O não dar conta de parar, querer estar à frente adiantando o problema, fala do lugar de necessidade de aprovação do outro, para esse outro dar valor a pessoa. Seria uma forma de ser valorizado e se sentir amado. A pessoa projeta no chefe, professor ou escola quem determina seu valor, que será ditado pelo que produz e não pelo que é. Assim, essa pessoa será escrava eternamente do que o outro demandar e estará presa nesse jogo de "agrado por afeto", esquecendo quem é e misturando o que produz com valor pessoal e não como meio de sustento ou atividade.

Além desse desejo de aprovação, temos também o sentimento de culpa. Como o nível de exigência interno é alto, existe o sentimento de sempre ter que fazer algo ou não será bom o suficiente. A culpa chega como se dissesse de um lugar de inadequação por não fazer o que é considerado o ideal de produção. O detalhe é que esse ideal está vinculado ao perfeccionismo, ou seja, é inalcançável. Volta a mea culpa tão difundida em nossa cultura judaico cristã: eu me culpo por não ser perfeito. Me culpo por não dar conta de tudo, me culpo por não ser o que gostaria de ser. Mas quando faço isso, me esqueço de quem sou, não valorizo meus feitos e minhas conquistas.

Conseguir parar é fundamental para o bem estar e para a produção contínua com qualidade. Existe o tempo de plantio e o tempo de colheita. É preciso achar o caminho do meio.

Falando em opostos, vamos para a procrastinação das tarefas. O que fazer quando deixamos acumular e as coisas parecem que não irão mais deixar de se avolumarem?! O ideal é traçar uma estratégia de recuperação. Listar quais atividades estão para trás e a partir daí dividi-las junto as atividades presentes, com a ideia de fazer um pouco a cada dia. Querer resolver tudo ao mesmo tempo trará desgaste e sensação de fracasso.

É interessante para chegarmos a um equilíbrio, tentar manter uma rotina de trabalho. Deixar um cômodo da casa para a atividade laboral, com horário de entrada, intervalo e saída. Isso pode ajudar uma organização interna melhor, que trará também uma paz interior e sensação de produtividade. Quando sentimos que empregamos o tempo de maneira produtiva nos sentimos competentes, sentimos que conseguimos sair de algum lugar e caminhar um pouco, mesmo ainda que não seja o ideal, já é melhor do que antes.

Precisamos entender o que move nossos sentimentos para conseguirmos nos libertar de nossos fantasmas internos!