Afetividade e enganos

11/06/2020
   Quando precisamos que outra pessoa nos diga nosso valor, nosso caminho e quem somos estamos presos em mentiras absolutas, que se tornam a forma de caminhar.

Muitas vezes diante do que os outros têm como forma de vida somos moldados a acreditar em falsas verdades que permeiam nosso entendimento sobre nós mesmos. A pessoa que é o afeto próximo, se não tem uma elaboração emocional, pode passar certos conceitos de "mentiras absolutas que se tornam verdades absolutas " a partir do seu ponto de vista. E nós, levamos para a nossa vida como se fosse uma constatação rígida de quem somos.

Então se o outro tem uma dificuldade em demonstrar afeto e esse outro é uma figura que ensina afeto e relação afetiva com o mundo, parece que não seremos merecedores de um lugar afetivo pleno. 
 Cria-se a visão de não merecimento e o sentimento de inferioridade. Ao enxergar o mundo através do olhar do outro deixamos de considerar que este outro tem questões e que pode ser que essas questões o façam agir de forma complexa em relação a ele mesmo, trazendo um "efeito colateral" na relação dele com o mundo, o que pode nos afetar, criando essa ilusão de que o mundo rejeita ou não ama de forma inteira. Muitas vezes esse outro não dá conta de estar inteiro ou de agir de outra forma, preso nele mesmo, como se estivesse emaranhado em suas questões de forma tão perdida que não consegue ir além na construção da referência afetiva.
É preciso tomar as rédeas da própria construção do afeto. Entender que existe muito a ser construído e é preciso ressignificar as referências afetivas. Essa mentira absoluta faz parte de um ponto onde pegamos a visão aprendida como um todo, porém ela é apenas uma parte. Esse outro pode ser um pai, uma mãe, um avô, uma avó,um  tio, uma tia... preso em seus conceitos e em suas tramas emocionais, nos seus traumas e entendimentos que, por muitas vezes fez o que deu conta. E precisamos desapegar disso. Perdoar, seguir em frente. É hora que quebrar o círculo vicioso e referenciar o afeto de outra forma. Perdoar nesse sentido significa ficar livre da mágoa do que a pessoa não deu conta e entender que ela é humana e não dona desse lugar absoluto. Aceitá- la apesar disso. Abraçar o seu lado de construções e aprender com seu lado ainda não elaborado. Esse perdão é fundamental para enxergar o mundo através do nosso olhar e não sob o olhar do outro. Assim estamos livres para criar nossa própria relação com mundo e com a afetividade a partir das nossas experiências.